Selo Unale
180 anos: surgem novos nomes no cenário político

19/06/2015

A melhor voz para narrar esses tempos pioneiros do Legislativo potiguar, sempre foi a do mestre Câmara Cascudo. O livro sobre a história do Legislativo pode ser lido no Memorial da Assembleia. Sua verve literária transforma os assuntos mais corriqueiros em prosa de boa qualidade. “Política era assunto de gente velha, de gente grande, dos experimentados, dos antigos, dos veteranos da vida. Para que antecipar a mocidade na fórmula da desilusão partidária? Ferreira Chaves trouxe os primeiros tenores para o Congresso, Moisés Soares, Ponciano Barbosa, um orador e um poeta, árcades ambos.

A Constituinte de 1915 é presidida por Henrique Castriciano, príncipe dos poetas, ensaísta, lido em livros. Figuram José Augusto Bezerra de Medeiros, Galdino Lima, Tomás Soriano Filho, Luís Potiguar Fernandes. A 10ª legislatura, 1916/17, traz Francisco Bruno Pereira, Joaquim Inácio. A 11ª João Vicente da Costa, Rafael Fernandes, Kerginaldo Cavalcanti, Dioclécio Duarte. Há reeleições na legislatura imediata e uma entrée predestinada, José Ferreira de Souza que, com Kerginaldo, iriam ao Senado da República.

Vão surgindo nomes ressonantes, Floriano Cavalcanti, Francisco Ivo Cavalcanti, Adauto Câmara, Gonzaga Galvão, Sinval Moreira Dias, Armando China, Antônio Bento de Araújo Lima, Epitácio Fernandes, Aldo Fernandes, Renato Dantas, Raul Caldas, Emídio Cardoso. São os-que-falam, discutem, propõem, debatem, tornam o cenário vibrante, arrancando palmas das galerias. São as culturas jurídicas e melhormente literárias, com os recursos, as técnicas, as manhas da retórica aplicada e feliz”.

Em seguida, Cascudo fala sobre a introdução de novos políticos no cenário da época. “Na 15ª Legislatura, com o governador Juvenal Lamartine além desses ‘novos’, viam João Câmara, futuro Senador, padrinho de município que teria seu nome, José Augusto Varela, inesquecido governador (1947-1951), Raul Caldas, ‘sinfonia interrompida’ pelo túmulo, Vivaldo Pereira, o padre Bianor Aranha, o farmacêutico Joaquim Inácio Torres, professor do Atheneu, figura da Câmara Municipal, inesperável do patrimônio afetivo da Cidade, e outros elementos, compondo e mantendo o ramalhete.

Foram nomes que a deputação sagrava no dinamismo renovador da mentalidade orientadora. Promoções por merecimento. Independiam do eleitorado, exceto João Câmara e José Varela que constituiriam “permanente” nos diagramas históricos da atividade administrativa e política no Rio Grande do Norte, um Governador e outro que, ao cair golpeado pela trombose, estaria candidato aclamado para sucedê-lo”.

Começa o período de desagregação política
O clima político da época é descrito por Câmara Cascudo como o início da desagregação. Aquelas assembleias unidas em torno do desenvolvimento do Estado, sempre apoiando as iniciativas do Governo, foram dando lugar ao partidarismo. “Esse período marca o início desagregatório da chefia local, inevitavelmente atuante entre governistas e oposicionistas e, quase sempre, simples desacordo entre correligionários disputantes da preferência do Governador no atendimento das indicações para empregos municipais, demissões punitivas e transferências aliviadoras”.

Segundo consta, esse clima desagregador segue assim até 1930, período do Estado Novo. “Ocultou-se no rescaldo das cinzas quentes, brasileiro que a eleição de 1934 altearia em chamas. No mesmo nível fumegante ardia Mossoró , até Chaves (que obtivera em 1913 a adesão do médico Francisco Pinheiro de Almeida Castro, padroeiro com fidelidade devocional). Antônio de Souza, cumprindo compromisso, fá-lo-ia Deputado Federal em 1921 e, falecendo no ano seguinte, seria substituído pelo industrial Rafael Fernandes Gurjão, médico, residente no Rio de Janeiro, cadeira reservada como patrimônio moral dos eleitores mossoroenses”.

A partir desse período, o parlamento potiguar passa a ser uma casa em constante ebulição política. “Essa atmosfera desconfiada e restritiva, parte a parte, continua ou inalterável e teimosa, arredando-o de qualquer manifestação de simpatia ao Governo e sem que recebesse nenhuma distinção, exceto cargos temporários de caráter consultivo e técnico”.

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