18/06/2019
Discutir políticas públicas em prol da valorização e do reconhecimento cultural das bandas e fanfarras do Rio Grande do Norte. Esse foi o objetivo da audiência pública realizada, na tarde desta terça-feira (18), na Assembleia Legislativa do RN. Proposto pelo deputado Kleber Rodrigues (Avante), o debate reuniu representantes de poderes públicos, sindicatos, associações, federações e ordens dos músicos.
“Esse assunto é de interesse de todo o RN, porque, quando tratamos de cultura, envolvemos toda a sociedade. Quero que saiamos daqui, hoje, com propostas concretas de incentivo e valorização das bandas e fanfarras do nosso estado. Precisamos reunir as ideias para cobrar, junto ao Poder Público, ações que tragam melhorias para esses grupos musicais”, disse o parlamentar.
Decepcionado com a falta de reconhecimento dos órgãos públicos, o presidente da Federação de Bandas e Fanfarras do RN (FEBANFARN), regente Lucival da Silva, pediu o apoio do parlamento potiguar. “O jovem que participa dessas bandas, ele começa e termina o ano na escola. Ele não evade, porque ele tem uma motivação: não quer deixar a banda. Esse mesmo jovem pede mudança, e a mudança acontece aqui no parlamento. Por isso precisamos da ajuda de vocês”, clamou o regente.
O presidente da FEBANFARN disse também que a instituição está transformando a juventude do estado, mas é preciso apoio do Poder Público. “Nós não acreditamos mais em promessas. Nós precisamos de pessoas que cheguem e façam. Não queremos mais ser vistos como números. Nós somos realidade. E nós precisamos de investimento para modificar ainda mais a juventude e a sociedade potiguar”, pediu.
O maestro e presidente do Sindicato dos Músicos Profissionais do RN (Sindmusi RN), Ricardo Nascimento, também pediu apoio para a nova geração de artistas potiguares da música. “Se esses jovens não tiverem incentivo, eles vão fazer o quê? Por isso estamos aqui para pedir o compromisso dos políticos, pois já estamos cansados de promessas e abandono”, desabafou.
Para Janilson Batista, vice-presidente da Ordem dos Músicos do Brasil, sempre há espaço para aquele que se dedica e ama o que faz, mas o incentivo do Poder Público é essencial nesse processo. “Tenho alguns alunos trabalhando e vivendo da música, hoje em dia. Mas nós precisamos do apoio do Poder Público para aumentar essa quantidade, suprindo as inúmeras necessidades das bandas e fanfarras do RN”.
O vice-presidente se mostrou motivado e otimista com relação aos possíveis resultados advindos da audiência. “O investimento é tão pequeno, dentro do que precisamos; mas o resultado é imenso. Por isso estamos muito otimistas e confiantes de que hoje será um marco de vitória para todos os integrantes da nossa luta. E eu só posso dizer a vocês, jovens artistas, que continuem sonhando, porque esse movimento ainda vai lhes dar muitos frutos”, motivou.
Betânia Ramalho, professora titular do Centro de Educação da UFRN e ex-secretária de educação, falou sobre a importância da música na vida e no desenvolvimento social dos jovens. “Quem estuda música, sabe como esse conhecimento é estratégico, lógico e matemático. Portanto, por meio dela se aprendem muitas outras habilidades; sem contar as questões do comportamento, que estão relacionadas a estar estudando, ter uma perspectiva, uma regularidade”, explicou a professora.
Ainda de acordo com Betânia Ramalho, a música é um grande canal de inserção social. “Nós não deveríamos estar aqui brigando por recursos, porque apoiar a cultura é uma obrigação dos órgãos públicos. E essa responsabilidade não precisa ser dita, mas sentida. Não construímos nada com palavras, e sim, com ações”, protestou.
O representante da Fundação José Augusto, Sérgio de Farias, que também é músico e compositor, explicou que será lançada em breve, junto com a Secretaria de Educação, uma grande discussão sobre o ensino das artes no RN. “Parece que será o primeiro encontro de professores de artes do estado. Isso prova a falta de valorização da cultura no Brasil”, disse.
Enriquecendo o debate com dados estatísticos, Sérgio de Farias mostrou a discrepância entre a valorização cultural no Brasil e na Europa. “No RN existem 600 unidades de ensino; dessas, apenas oito são de música. Enquanto isso, a França, que é do tamanho do Ceará, tem 650 conservatórios de música, e na Alemanha existem 1400 unidades de ensino gratuito de artes”.
Representando o Governo do Estado, o subsecretário de Esporte e Lazer, Francisco França, convidou os membros da luta pela valorização das bandas e fanfarras do RN a apresentarem suas propostas em reunião oficial. “Nós, da secretaria, convidamos os representantes do movimento pró bandas e fanfarras a participarem de uma reunião com o secretário de esporte e membros da Fundação José Augusto. A ideia é colocarmos suas reivindicações no Plano Plurianual, pois sabemos que as manifestações culturais são essenciais para a melhoria da educação e redução da violência”.
Por fim, o deputado Kleber Rodrigues avaliou a audiência como positiva, citando a reunião marcada com os representantes do Governo, e garantiu que prestará total apoio, ao longo do seu mandato, à causa das bandas e fanfarras do Rio Grande do Norte.
Nomenclaturas
Fanfarras - têm origem numa peça musical militar, curta e intensa, executada por instrumentos - tais como trombetas, trompas, clarins, tambores - de origem árabe. Introduzida na Espanha, estendeu-se para o resto da Europa. São, de modo geral, vistas como um tipo de banda, compostas apenas por instrumentos de metal simples (cornetas) e de percussão (em geral considerado o ponto forte da fanfarra).
Bandas - têm uma formação relativamente grande, mas, em sentido restrito, se referem a um conjunto de fanfarras. Possuem instrumentos basicamente de sopro, tais como as bandas militares e as fanfarras. A palavra “banda” também podem ser utilizada para designar um conjunto de determinados instrumentos, como: bandas de percussões, bandas de acordeões, steel bands etc. Com frequência, o termo “banda” refere-se a um grupo que executa determinado instrumento ou uma família deles. Como exemplo, podemos citar as bandas de pífanos.
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