Desaparecimentos de crianças e adolescentes ganham voz em audiência pública na AL
04/12/2009
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura o desaparecimento de crianças e adolescentes no Brasil realizou uma audiência pública nesta sexta-feira, 04, na Assembleia Legislativa do RN, com o objetivo de discutir políticas públicas para encontrar formas de combater o desaparecimento de crianças.
A audiência teve como mediadora, a deputada Bel Mesquita (PA) que também preside a CPI. Os deputados Antônio Carlos Chamariz (AL), Geraldo Pudim (RJ), Emília Fernandes (RS) e as deputadas Sandra Rosado e Fátima Bezerra, também fizeram parte da mesa.
De acordo com a deputada Bel Mesquita, a CPI tem como finalidade investigar as causas e os responsáveis pelo sumiço de crianças e adolescentes no Brasil, e de levantar todos os dados para que as causas e conseqüências possam ser apuradas. A Comissão vem realizando audiências públicas em vários Estados.
Para a deputada Bel Mesquita, é importante levar a CPI para vários estados , porque cada um tem uma realidade diferente, e nem todos os desaparecimentos tem as mesmas características. Ela espera que ao final dos trabalhos possam surgir políticas públicas com o objetivo de diminuir o número de crianças desaparecidas no país.
Segundo a deputada Fátima Bezerra, esta audiência é fundamental para que sejam levantados os dados referentes ao RN. 'Esta CPI é de extrema importância para o nosso estado. O caso mais emblemático é o do Planalto, que até hoje não teve nenhuma solução. O que mais nos preocupa são os números. De acordo com a Secretaria de Segurança, mais de 80 crianças estão desaparecidas'.
Em seguida, a presidente da CPI pediu aos parentes das crianças desaparecidas que prestassem seus depoimentos. Francisca da Silva, mãe de Moisés Alves da Silva, falou sobre o dia em que o filho desapareceu, no ano de 1998: 'Era madrugada de um domingo, meu esposo acordou e meu filho não estava mais lá. Já se passaram mais de 10 anos e meu filho nunca mais voltou. Não tenho mais alegria para nada. Mas a minha esperança de encontrar ele nunca morreu'.
Além de Francisca da Silva, a audiência da CPI ouviu as famílias de mais quatro crianças desaparecidas no bairro do Planalto. Também prestaram depoimento, os familiares de Joseane Pereira da Silva, de oito anos, que sumiu no ano de 1999; os parentes do menino Yuri Tomé Ribeiro, de dois anos, que desapareceu em 2000; os pais de Gilson Enedino da Silva, de cinco anos e pai e mãe de Marília da Silva Gomes, de dois anos, que foi retirada de um barraco de papelão, durante a madrugada, em 2001.
A mãe de Moisés disse ainda que a CPI é uma esperança de encontrar o filho. 'Esta audiência é uma esperança para as famílias que assim como a minha, sofrem com esse problema. Infelizmente até hoje não tenho nenhuma informação sobre o paradeiro do meu filho', disse Francisca da Silva.
Segundo o Presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, o Rio Grande do Norte, a exemplo do que ocorre no restante do país, não possui números precisos sobre esta questão. 'Acredito que a instalação da comissão abrirá portas para discussões com entidades com o objetivo de encontrar formas de organizar e sistematizar a busca pelos desaparecidos', declara Marcos Dionísio.
Durante a audiência também foram discutidas as principais causas que envolvem o desaparecimento de crianças e adolescentes em Natal. Para a coordenadora do SOS Criança, Genilda Socorro, a falta de recursos e de uma estrutura familiar está por trás da maioria dos casos: 'Muitas crianças fogem do convívio familiar, por que são maltratadas ou usam drogas'.
Genilda explica ainda que o SOS Criança é um serviço de âmbito nacional, que tem como população alvo crianças e jovens até 18 anos e suas famílias, podendo assim fornecer assistência social ou psicológica às famílias de pessoas desaparecidas: 'Quando chega uma mãe com este problema tentamos acalmá-la e orientar que tipo de serviço ela deve procurar'.
Para a coordenadora também não é preciso esperar prazo algum para denunciar o desaparecimento de alguém: 'A polícia recomenda esperar 24 horas, porque muitas crianças voltam para suas casas, mas isso não é necessário. É importante que as pessoas procurem as autoridades e forneçam os detalhes necessários para facilitar a operação policial'.
A deputada Sandra Rosado disse que o pior é o destino dessas crianças. ' São vários os motivos do desaparecimento, cada um mais terrível que o outro. É tráfico de pessoas, exploração sexual e até para a retirada de órgãos. Isso é um fato terrível, doloroso. A CPI já visitou vários estados, já ouviu várias pessoas e quero dizer que nenhum de nós está livre disso. Famílias estão buscando esses filhos e estamos aqui para ajudar', declarou a parlamentar.